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Cordel:
NOSSA SENHORA DA SAÚDE
Terceira Romaria do Ceará

Peço a Deus inspiração
Para poder retratar
Uma das maiores festas
De teor bem popular:
A terceira romaria
Dos sertões do Ceará.

Nossa Senhora da Saúde
Por muitos é venerada.
Em Olho D'Água da Bica
Dá-se a festa esperada.
Vem gente de toda parte,
Sofredora ou abastada.

Dia 15 de agosto
É a data escolhida
Devotos de muito longe
Visitam a Mãe Querida
São diversos os milagres
Em prol da gente sofrida.

Passo agora a relatar
Como tudo começou
Antônio Nunes Malveira
Em seu livro registrou
A história desde o princípio
Tal qual o tempo legou.

No século dezenove
Oitenta e um é o ano
A igreja foi construída
Num esforço sobre-humano
Padre Joaquim de Menezes
É quem espanta o profano.

Contam que ele teve um sonho
Com a Santa Virgem Maria
Apontando o lugar certo
Onde a igreja se ergueria
Lugar rude, junto à fonte,
E futura romaria.

Apesar de construída
Nesse ano referido
Só em 31 de maio
Com mais um ano seguido
É que houve a primeira missa
Para o povo tão sofrido.

 

Em 82 também
Foi construído um Cruzeiro
De pedra bem trabalhada
João Machado, o pedreiro,
Deixando ali sua marca
De artista pioneiro.

Padre Joaquim de Menezes
Fez então a profecia:
Enquanto erguido o Cruzeiro
Malefício não havia
Eis o povo protegido
De qualquer epidemia.

O fato se comprovou
Nos anos subseqüentes.
Às voltas, houve bexiga,
Malária, febres ardentes,
Por não se contaminarem
Ficaram todos contentes.

Mas no ano 89
Do século referido
O inverno arrasador
Destruiu o construído
A igrejinha foi abaixo
Foi grande o alarido.


Contaram os mais antigos
Que muita chuva se deu...
Trinta dias bem nublados
Eis as noites como breu
E naquele mês de maio
O sol não apareceu.

Mil novecentos e três...
O povo então se uniu
E no mesmo lugarzinho
Nova igreja construiu,
Mas no ano dezessete
Novamente ela caiu.

Como o povo tinha fé
Não desistia jamais.
No ano de vinte e quatro
O Padre Acelino Arraes
Construiu no mesmo ponto
Desses dias atuais.

Falo agora a respeito
Da imagem venerada
Que naquele 82
Por um homem foi doada
Coronel Antônio Joaquim
Deu a prenda abençoada.

Doou a imagem e o sino
Que naquela ocasião
Duzentos e dez mil réis
Foi a totalização
Uma quantia alarmante
Pra toda população.

Conduziram a imagem
Partindo de Limoeiro.
Caminhada muito lenta
Passando por Tabuleiro.
Verdadeira procissão
Registrada por primeiro.


O cuidado era imenso
Para não danificar
Aquela imagem sagrada
Não podiam macular
Pensando dessa maneira
Tiveram então que parar.

Nas terras de João Menino
Descansaram sem demora
E só no dia seguinte
É que o povo foi embora
E hoje o lugar se chama
Rancho de Nossa Senhora.

A chegada da imagem
Foi grande acontecimento
Começaram as visitas
Aumentou o movimento
A gente humilde e sofrida
Mostrou seu devotamento.

Surgiram em pouco tempo
Os efeitos milagrosos
A Santa não esquecia
Os seus filhos numerosos
Abrandava as aflições
Dos corações piedosos.

Muito rara a medicina
Para o povo mais carente.
Doença por toda parte
Era uma regra corrente
Todos então recorriam
Aos céus, fervorosamente.

Dessa forma se apegavam
À Santa Virgem Maria
Todo tipo de doença
A Santa Mãe assistia
Os milagres aumentavam,
Duvidar ninguém podia.


Ao pagar suas promessas
Trazem a comprovação
Pois registram na madeira
O milagre em ação
O membro que foi curado
Vira peça do artesão.

Braços, pernas e cabeças
Coxas, joelhos e seios...
Doenças em qualquer órgão
Registram-nas sem receios
Em talhes muito elegantes
Ou cortes rudes e feios.

É na Casa dos Milagres
Que ficam amontoados
Além desses objetos
Muitos outros são guardados:
Muletas, fotografias,
E artefatos variados.

 

Há também pequena fonte
Jorrando bem natural
Água límpida que cura
Segundo a crença local
Assim muitos consideram
Produto medicinal.


O ano todo tem romeiros
Pode-se assim constatar
A Santa tem seus devotos
Em todo e qualquer lugar
Mas agosto é melhor mês
Para a Santa visitar.

Muitos fazem o trajeto
A pé e com devoção.
Outros vão por brincadeira
Ou por pura diversão.
O fato é que a Santa sabe
Quem lhe tem adoração.

Independente de crenças
Ou do modo de sentir
A Santa Virgem Maria
A todos pode assistir.
Ama pura e simplesmente:
Seu papel é redimir.

Nos dias de aflição
Imolados pela dor
Lutemos com muita fé
Tomados de muito amor.
O segredo aqui está:
Nossa Mãe, Nosso Senhor!...

FIM

Tabuleiro do Norte-Ceará
29 de junho de 2007.

      O Cordel tem feito coisas               Sinto que a Literatura

      Que me deixam espantado            Tem cumprido o seu papel

      Atravessando fronteiras                Façam lá seus versos brancos

      De modo determinado                    Produzidos a granel

      Instalou-se no Nordeste                Mas prefiro rima e métrica

      Aqui fundou seu reinado               Nos meus versos de Cordel.

                                    

                                   ((( Francinilto Almeida )))

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