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PARTICIPAÇÕES EM ANTOLOGIAS

AMO DE TI

Pág. 319

 

ESSÊNCIA

Na essência do meu ser,
Eu sei, borbulham lembranças fartas,
Do farto tempo que se esvaiu.

Procuro em mim, constantemente,
Deleite e arroubos que se depuram,
Afagos e desejos que se deflagram,
Mas eu, criança, fui de boa safra o vinho.

 

Todo infante o é, e se edifica marítimo,
Na maresia extensa de um cais exposto à madureza.

Aqueles dias clareiam minhas noites
E obscurecem minhas perspectivas.

 

Sou pardo no timbre e opaco na voz
Contudo, pior seria sem as nervuras
Daquelas noites desavisadas e extensas.

 

Cerrando os olhos sou capaz,
Eu juro,
De reproduzir películas abissais,
Cenograficamente próprias,
De um cinema inconstituído,
Etéreo até,
Mas petrificado em mim.

 

Se hoje,
Deliberado,
Sobrevivo aos reveses da vida
É que sou essência atávica
Daquela criança matinal.

Preciso subtrair-me,
É certo,
Para crescer,
De fato,
E multiplicar-me em sonhos.

RIMA É REMAR

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RELÍQUIAS DO PASSADO​

​​

Guardo comigo latente​
Lembranças inesquecíveis​
De um tempo bem diferente​
Por isso mesmo infalíveis.​
Tantas horas de alegrias​
Que nas minhas noites frias​
Atualmente revejo​
E me apagam os tormentos​
Que me causam sofrimentos​
Nessa idade em que me vejo.

Nossa casinha era pobre
Sem conforto e sem fartura
Sem o luxo do homem nobre
Que o orgulho transfigura,
Mas trazia segurança
Que para qualquer criança
Já fica de bom tamanho
O que se quer na verdade
É viver em liberdade
Sem mesmice do tacanho.

Brincadeiras incontáveis​
Da manhã ao pôr-do-sol​
E nas noites inflamáveis​
Tremendo sob o lençol...​
Pois havia assombração​
Fantasmas, Bicho-papão​
Papafigo e até Caipora​
Sem falar dum tal buraco​
De Santo Antônio, o velhaco,​
Tanta coisa, quem não chora.

Nas chuvaradas de abril
Os banhos eram rotina
Pois mesmo estando febril
Seja menino ou menina
Lugar certo era o terreiro
Ou mesmo açude ou barreiro
A festança era imperdível
O certo é que se voltava
Mais sujo e sem se importava
Co´a reprimenda horrível.

Existia até quermesse,​
As festas da padroeira.​
Coisas que ninguém se esquece,​
Tais como andanças na feira.​
E os brinquedos tão grosseiros​
Eram nossos companheiros​
Feitos artesanalmente​
Todos, sim, eram amados​
Pois não eram importados,​
Quebrando-se facilmente.

Ah, que saudades que eu tenho:​
Milho cozido ou assado,​
Rapadura, mel de engenho,​
Toucinho, peixe torrado,​
Cajarana, siriguela,​
Foi-se tudo na esparrela​
Mesmo degustando agora​
Digo sem nenhum favor​
Já não tem o tal sabor​
Daqueles tempos de outrora.

      O Cordel tem feito coisas               Sinto que a Literatura

      Que me deixam espantado            Tem cumprido o seu papel

      Atravessando fronteiras                Façam lá seus versos brancos

      De modo determinado                    Produzidos a granel

      Instalou-se no Nordeste                Mas prefiro rima e métrica

      Aqui fundou seu reinado               Nos meus versos de Cordel.

                                    

                                   ((( Francinilto Almeida )))

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