Escritor e Poeta
Francinilto Almeida
PARTICIPAÇÕES EM ANTOLOGIAS
AMO DE TI
Pág. 319
ESSÊNCIA
Na essência do meu ser,
Eu sei, borbulham lembranças fartas,
Do farto tempo que se esvaiu.
Procuro em mim, constantemente,
Deleite e arroubos que se depuram,
Afagos e desejos que se deflagram,
Mas eu, criança, fui de boa safra o vinho.
Todo infante o é, e se edifica marítimo,
Na maresia extensa de um cais exposto à madureza.
Aqueles dias clareiam minhas noites
E obscurecem minhas perspectivas.
Sou pardo no timbre e opaco na voz
Contudo, pior seria sem as nervuras
Daquelas noites desavisadas e extensas.
Cerrando os olhos sou capaz,
Eu juro,
De reproduzir películas abissais,
Cenograficamente próprias,
De um cinema inconstituído,
Etéreo até,
Mas petrificado em mim.
Se hoje,
Deliberado,
Sobrevivo aos reveses da vida
É que sou essência atávica
Daquela criança matinal.
Preciso subtrair-me,
É certo,
Para crescer,
De fato,
E multiplicar-me em sonhos.
RIMA É REMAR
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RELÍQUIAS DO PASSADO
Guardo comigo latente
Lembranças inesquecíveis
De um tempo bem diferente
Por isso mesmo infalíveis.
Tantas horas de alegrias
Que nas minhas noites frias
Atualmente revejo
E me apagam os tormentos
Que me causam sofrimentos
Nessa idade em que me vejo.
Nossa casinha era pobre
Sem conforto e sem fartura
Sem o luxo do homem nobre
Que o orgulho transfigura,
Mas trazia segurança
Que para qualquer criança
Já fica de bom tamanho
O que se quer na verdade
É viver em liberdade
Sem mesmice do tacanho.
Brincadeiras incontáveis
Da manhã ao pôr-do-sol
E nas noites inflamáveis
Tremendo sob o lençol...
Pois havia assombração
Fantasmas, Bicho-papão
Papafigo e até Caipora
Sem falar dum tal buraco
De Santo Antônio, o velhaco,
Tanta coisa, quem não chora.
Nas chuvaradas de abril
Os banhos eram rotina
Pois mesmo estando febril
Seja menino ou menina
Lugar certo era o terreiro
Ou mesmo açude ou barreiro
A festança era imperdível
O certo é que se voltava
Mais sujo e sem se importava
Co´a reprimenda horrível.
Existia até quermesse,
As festas da padroeira.
Coisas que ninguém se esquece,
Tais como andanças na feira.
E os brinquedos tão grosseiros
Eram nossos companheiros
Feitos artesanalmente
Todos, sim, eram amados
Pois não eram importados,
Quebrando-se facilmente.
Ah, que saudades que eu tenho:
Milho cozido ou assado,
Rapadura, mel de engenho,
Toucinho, peixe torrado,
Cajarana, siriguela,
Foi-se tudo na esparrela
Mesmo degustando agora
Digo sem nenhum favor
Já não tem o tal sabor
Daqueles tempos de outrora.
O Cordel tem feito coisas Sinto que a Literatura
Que me deixam espantado Tem cumprido o seu papel
Atravessando fronteiras Façam lá seus versos brancos
De modo determinado Produzidos a granel
Instalou-se no Nordeste Mas prefiro rima e métrica
Aqui fundou seu reinado Nos meus versos de Cordel.
((( Francinilto Almeida )))